PREFÁCIO
Amilcar Viana Martins Filho
Doutor em História pela Universidade de Illinois.
Professor de História na UFMG.
A primorosa reedição crítica do Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Geraes, de 1927, que ora se publica em edição eletrônica pela Fundamar - Fundação 18 de março e seus colaboradores, resgata para todos os interessados em cartografia histórica e em estudos mineiros uma obra de grande interesse que há muitos anos havia se tornado uma raridade bibliográfica, difícil de ser encontrada até mesmo nos acervos especializados de Minas e do Brasil.
Além dos múltiplos significados simbólicos de suas ilustrações, já discutidos com grande erudição por alguns colaboradores da presente edição, o livro nos seduz, antes de mais nada, pela sua irresistível beleza, não apenas dos 178 mapas dos municípios mineiros coloridos em suaves tons pastéis, como também do seu charmoso e elegante projeto gráfico art nouveau.
Quanto ao seu conteúdo, o trabalho se insere em uma antiga tradição de estudos corográficos na historiografia do século XIX e das primeiras décadas do século XX, quando grandes unidades espaciais tais como países e estados eram desagregados nos seus níveis analíticos mais básicos como os distritos e municípios, e apresentados individualmente, reunidos em grandes obras de referência: álbuns, almanaques, dicionários geográficos, atlas, anuários e compilações entre outros.
No Brasil fazem parte desta tradição grandes clássicos como a Corographia brazílica ou relação histórico-geográfica do Reino do Brasil, de 1817, de Ayres do Casal, o Diccionario geographico histórico e descriptivo do Império do Brazil, de J. C. R. Milliet de Saint Adolphe, de 1845, o Atlas do Império do Brazil, de Candido Mendes de Almeida, de 1828 e os Apontamentos para o diccionario geographico do Brazil , de Alfredo Moreira Pinto, de 1894-99, entre muitos outros.
Também em Minas é muito grande a produção de obras dessa natureza, podendo ser citados os Almanaques de Assis Martins no final do século XIX, o Almanaque Sul-Mineiro, de Saturnino da Veiga, também da mesma época, as corografias municipais publicadas por Xavier da Veiga na Revista do Arquivo Público Mineiro, na virada do século XIX, os Anuários Corográficos de Nelson de Senna, das primeiras décadas dos século XX, as Memórias Chorographicas e as Narrativas e Memórias, de Álvaro da Silveira, o álbum Minas e seus municípios, de Roberto Capri, o compêndio Minas Gerais no XXº século, de Rodolpho Jacob, e a obra monumental Minas Gerais em 1925, de Victor Silveira.
Mais recentemente, temos algumas obras de Waldemar de Almeida Barbosa e a Enciclopédia dos municípios brasileiros, do IBGE na década de 1950. Ainda em 2008, o Senador Eduardo Azeredo publicou o livro Janelas de Minas, que mantém basicamente a mesma estrutura dessas obras de referência, com informações básicas sobre a área, localização (mesorregião e microrregião do IBGE), bacia hidrográfica, população, número de domicílios, patronímico e data de criação dos 853 municípios do estado de Minas Gerais.
Ao longo de todo esse tempo, apesar de algumas tentativas de só reconhecer a importância das grandes sínteses históricas, as chamadas histórias universais, os estudos de micro história nunca deixaram de ser praticados. De acordo com seus principais pesquisadores, hoje reunidos na Universidade de Leicester, na Inglaterra, a limitada abrangência geográfica não pode ser considerada um problema, simplesmente porque todos os estudos históricos são definidos por divisões de tempo e espaço, e nenhuma abordagem é mais legítima que as outras. Sempre haverá espaço para o estudo das corografias municipais.
Belo Horizonte, 27 de abril de 2012